O ladrão de festa...ah, esse
roubou, e muito bem uma festa. Mas antes de julgarem o tal, não o interpretem
mal, pois ele roubou a festa, não roubou durante o seu
desenrolar. Afinal, ele que não é besta nem nada, não queria ser dado
como um fora da lei...ele não era dessas coisas, pois era direito, educado e
chegara a ser um pouco solitário, talvez porque gostasse ou porque se sentisse
melhor assim.
É fato que todos gostam de se
divertir, até aqueles mais ranzinzas têm sua forma preferida de sair da rotina.
Porém o Ladrão de festa era tÃmido, um pouco solitário, à s vezes fechado no seu
mundo – o que não tem nada a ver com as caracterÃsticas de um ladrão no sentido
literal – porém era aberto à quem lhe permitisse confissões, segredos,
novidades e preferência como humano, pessoa, de fato, que ele era. E assim é o
Ladrão de festa.
Sabe-se que para ganhar pessoas,
fazer amigos, manter uma boa comunicação com vizinhos é tarefa pra corajosos na
sociedade contemporânea em que se vive, onde todos estão com muita pressa, sem
muito tempo pra conversar, sem tempo pra socializar, pois estão cada vez mais
fechados no seu próprio mundo...é só uma chusma de gente andando pra lá e pra
cá durante todo o dia. Não sabe como não se batem de frente uns com os outros,
nem mesmo olham-se nos rostos. Visando somente o “eu” lá se vão.
Foi-se o tempo das prosas entre
vizinhos na porta de casa durante a hora do dia que lhes conviessem, geralmente
à noite. Foi-se o tempo das confraternizações familiares sinceras, que cá entre
nós, hoje são minoria. É só chegar, comer, beber e tchau! E foi numa dessas
confraternizações que o Ladrão não recebeu o seu convite. Bem, ele nada pôde
fazer, afinal foi sempre calado e muito tÃmido, porém sutil, sem muita
intimidade com outros. E foi aà que se deu o grande roubo, que é mais simples e
divertido do que parece.
Era noite. Na residência vizinha transcorria uma enorme festa, dessas com Dj e tudo...como uma boate ao fim de semana. O som da batida ecoava ao longo da rua, que a essa hora já não havia transeuntes. Jogos de luzes, Dj “arrebentando” nas mixagens, estilos variados das inúmeras vertentes musicais e pessoas se divertindo. Percebia-se pelos gritos de “Bis!”, “Uhull!”, “Vamos lá!”. Mas havia uma pessoa fora deste grande evento, o Ladrão de festa. E foi nesse momento que ele que já estava no sofá, à frente da televisão, sem sono e comendo que ele decidiu roubá-la, ou pelo menos uma partezinha dela.
Aos poucos foi se mexendo,
sacudindo o esqueleto...curtindo o som alheio que ele decidiu que entraria na
dança, mesmo sem ser chamado. De modo sutil e despercebido ele o fez. Decidiu
que ia dormir. Desligou a Tv e...dormir? Não, de formal alguma! Longe da vista
daqueles que há muito já tinham ido dormir, sem fazer barulho pôs-se a dançar.
Dançar muito, pois o ritmo era contagiante e ele não podia se segurar, pois ele
estava na festa, mas não estava. Sua festa era particular, só ele e ele mesmo
apesar do espaço pequeno em que se encontrava. Sozinho divertiu-se muito,
talvez mais até do que alguns que estavam, de fato, presentes naquele meio.
Ele estava feliz, por fazer parte
da grande celebração que, por sinal, foi digna de comentários, e dos bons.
Nesse momento ele percebeu que um convite era só mais um pedaço de papel
perguntando implicitamente se você deseja ir ou não a um determinado evento,
que se for de médio ou grande porte, nem darão por sua falta, a não ser que
seja de bons amigos próximos e sinceros. Ele percebeu, também, que não é
preciso muito para se fazer feliz e que tudo só depende da própria
pessoa.
Sem saber, nesse momento ele
discordou, nesse sentido, de um dos maiores Ãcones da MPB, o grande Tom
Jobim, que já dizia, num de seus maiores, ou talvez maior sucesso, a
canção Wave, cuja ele finaliza as duas estrofes iniciais dizendo que “é
impossÃvel ser feliz sozinho”. E o querido Ladrão tornou isso possÃvel,
divertindo-se, talvez, até mais do que quem estava lá.
Esse foi, e é...ou talvez ainda
seja e não sabe-se se continuará sendo o Ladrão de Festa.
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