domingo, 10 de maio de 2020

Resignação do eu, da realidade e das relações humanas que são pertinentes à vida


Ansiedade, depressão, desejo desmedido, ávida busca por atenção, popularidade e tentativa de fazer parte de um grupo são vontades advindas da longa e constante imersão da criança, do jovem e do adulto nas redes sociais. As relações humanas, o verdadeiro afeto, as conversas familiares, os bons momentos juntos, as boas memórias daquela viagem inolvidável, a expressão dos sentimentos: as alegrias, as tristezas, os bons anseios etc. Coisas que vão para além das telas dos computadores e daqueles que superam a população mundial. Os smartphones.

Em tempos tão efervescentes onde muita coisa acontece num exíguo espaço de tempo, vez por outra algumas dessas estão sob os nossos narizes, mas não estamos apercebidos disso. No país cuja face voltada para o exterior mostra-se hospitaleiro, alegre e de bem com a vida, a final aqui é o “país do carnaval”, põe-se em xeque a saúde mental – diga-se psíquica-, dos seus mais 5% considerados pela Organização Mundial da Saúde, com base em estudos executados a partir de 2005 e mais 10 anos à frente – diagnosticados com depressão, ainda que esteja em voga a busca pelo bem-estar mental interior. Mas não tão somente o estilo de vida particular a cada um destes que padecem dessa enfermidade estão sob a mira dos pesquisadores, mas sim todos nós passageiros dessa vida.

Atendo-me à este parêntese que agora abro, penso fazer bem em lançar mão da música Dust in the Wind(Poeira ao Vento) (Kansas, 1978) – simplificando para os amigos hei de citar um excerto traduzido que, cabe muito bem à este simples artigo:


“Eu fecho meus olhos

Apenas por um momento
E o momento se foi
Todos os meus sonhos
Passam diante dos meus olhos, em curiosidade
Poeira ao vento
Tudo o que eles são é poeira ao vento”

(Kansas, 1978)

Vão se perdendo as conexões afetivas, familiares e físicas para dar lugar à sentimentos, expressões de afeto e à construção subjetiva de novos laços pois não mais fazemos parte de um único círculo que é o familiar, mas sim também de uma aldeia global que são as redes sociais e seus atores, da ordem de bilhões.

Caríssimos amigos, que não resignemos nossas próprias vidas para viver virtualmente a vida alheia, que não façamos sacrifícios desmedidos – principalmente as mulheres bombardeadas pela indústria da beleza, sendo impelidas a seguir determinados padrões, tentando à duras penas serem aceitas e se encaixarem em certos parâmetros e ditames de normalidade. Quanto aos homens, a busca pelo corpo perfeito pregado e vendido pelos grandes influenciadores tem prejudicado a saúde de uns e suplantado a autoestima de outros, por estes não serem bem quistos ao olhos de alguns  quanto aos seus dotes físicos se comparados a uma outra parcela de homens corpulentos e musculosos, e supostamente mais bem-sucedidos em engendrar relacionamentos com o sexo oposto. No entanto essas são pessoas vazias de si mesmo, de conteúdo, de vivência como experiência. Não se inspirem neles.

Amem seus verdadeiros amigos nas rodas de conversa, nas suas casas, não através duma simples tela e de uma simples rede que, ao clique uma amizade pode ser instantaneamente desfeita. Amem seus pais e avós, respeitem o seu próximo. A vida, seus momentos e nossos sonhos são, afinal como poeira no vento. Apenas viva.

Marcus Alves

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